
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), por meio do Departamento de Entidades de Apoio e Acolhimento Atuantes em Álcool e Drogas (Depad), lançou um estudo inédito que traça o perfil detalhado dos acolhidos em Comunidades Terapêuticas Acolhedoras (CTs) com vagas financiadas pelo Governo Federal.
O levantamento analisou informações de 2.710 acolhidos adultos de 271 entidades em todo o país, representando um subsídio fundamental para o aprimoramento das políticas públicas voltadas ao Transtorno por Uso de Substâncias (TUS).
Confira os principais resultados que revelam a complexidade do público atendido:
1.Idade e Gênero: Acolhimento na Vida Adulta
Idade: A maioria das pessoas acolhidas concentra-se na fase adulta, com mais de 61% dos casos nas faixas etárias entre 30 e 49 anos (33,2% de 30 a 39 anos e 28,2% de 40 a 49 anos). Isso sugere que o acolhimento é buscado, majoritariamente, em estágios mais avançados e crônicos da dependência.

Gênero: A amostra é composta por 76,3% de homens e 23,7% de mulheres. A participação masculina se mantém estável em todas as faixas etárias, mas observa-se um leve aumento proporcional da presença feminina nas faixas acima dos 40 anos.


2. Principal Substância: Predomínio de Derivados da Cocaína
A principal motivação para o acolhimento está relacionada a substâncias de alta gravidade:
7 em cada 10 acolhimentos (68,9%) são motivados pelo uso de derivados da cocaína:

Crack: 38,2%
Cocaína (Cloridrato): 30,7%
Álcool: É a terceira causa mais comum, respondendo por 26,9% dos acolhimentos. O álcool é a substância mais prevalente entre os acolhidos com 60 anos ou mais (82,2%).
Maconha: Apresenta uma proporção significativamente menor (2,6%) como motivo principal de acolhimento, o que pode indicar que seu uso isolado é menos frequentemente associado à necessidade de acolhimento residencial.

3. Poliuso e Contexto Familiar
Poliuso: O uso simultâneo de múltiplas substâncias é uma realidade para a ampla maioria dos acolhidos, sendo 86,9% entre os homens e 86,1% entre as mulheres. Esse padrão complexo e de alta gravidade exige estratégias de tratamento integradas e individualizadas.

Uso Familiar: 78,3% das pessoas acolhidas relataram ter convivido com o uso de substâncias (como álcool ou tabaco) no ambiente familiar. Esse dado reforça a necessidade de ações preventivas e de apoio familiar para romper ciclos de repetição.

4. A Maior Barreira para a Busca por Ajuda
Quando questionados sobre o que mais dificultou a busca por ajuda, mais da metade dos acolhidos relatou a mesma dificuldade:

Dificuldade em aceitar que precisava de ajuda (Negação): Apontada como principal barreira por 53,9% dos acolhidos.
Outros fatores como o medo de julgamento (14,3%), a falta de acesso a informações (11,5%) e a ausência de apoio ou motivação (10,9%) aparecem em patamares significativamente menores. A negação é uma barreira persistente e transversal, presente em todas as faixas etárias.
Importância do Estudo:
O relatório “Perfil dos Acolhidos pelas Entidades de Acolhimento Contratadas pelo MDS” transcende a simples coleta de dados; ele atua como um mapa detalhado para aprimorar a intervenção no Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) no Brasil.
Os dados revelam um perfil complexo: o acolhimento é majoritariamente procurado por homens adultos (30-49 anos), enfrentando cronicidade e um elevado índice de poliuso. A predominância de derivados da cocaína (68,9%) e a alta taxa de histórico familiar de uso (78,3%) sublinham a gravidade do quadro e a necessidade de abordagens que vão além do tratamento individual.
Acima de tudo, o estudo aponta para a barreira mais significativa na jornada da recuperação: a negação (52,5%). Este achado crucial orienta o foco das futuras políticas: o investimento deve ser direcionado para estratégias de engajamento precoce, psicoeducação intensiva e o desenvolvimento de técnicas motivacionais para superar essa resistência interna.
O MDS, por meio do Depad, reafirma seu compromisso com a Política Nacional sobre Drogas (PNAD). Este estudo baseado em evidências concretas é a base para refinar a alocação de recursos, qualificar o corpo técnico das Comunidades Terapêuticas e garantir que o acolhimento oferecido seja não apenas um espaço de moradia temporária, mas uma porta de entrada eficaz e humanizada para uma mudança de vida sustentável. A meta é clara: transformar a compreensão do TUS em ações que promovam a dignidade e a recuperação plena dos cidadãos brasileiros
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