
Você já ouviu que o álcool “mata neurônios”? Essa frase pode parecer exagerada, mas a ciência está mostrando algo tão ou mais preocupante: beber, mesmo que pouco, pode fazer seu cérebro envelhecer mais rápido.
Isso mesmo. Pesquisas recentes revelam que o álcool afeta não só o fígado e o coração, mas também acelera o desgaste do cérebro, antecipando problemas como perda de memória, dificuldade de concentração e até doenças neurológicas.
Beber pouco também faz mal?
Sim. Um estudo com mais de 36 mil adultos, publicado por cientistas da Universidade da Pensilvânia (EUA), mostrou que até mesmo uma taça de vinho ou uma cerveja por dia já pode causar redução no volume cerebral — a parte do cérebro que usamos para pensar, lembrar, sentir e nos mover.
E quanto mais a pessoa bebe, mais rápido o cérebro “envelhece”:
- 1 dose por dia = cérebro ~6 meses mais velho
- 2 doses por dia = cérebro ~2 anos mais velho
- 4 doses por dia = cérebro ~10 anos mais velho
Frequência e quantidade importam
Beber só no fim de semana, mas em grande quantidade, também traz riscos. Outro estudo descobriu que pessoas que bebem com frequência — mesmo em doses moderadas — têm um “cérebro mais velho do que a idade real”.
Ou seja, não é só o quanto você bebe, mas também com que frequência.
O que acontece com o cérebro?
O álcool é uma substância tóxica para o cérebro. Ele pode:
- Reduzir a massa cerebral (atrofia)
- Danificar os vasos sanguíneos cerebrais
- Afetar a comunicação entre os neurônios
- Prejudicar a memória, o raciocínio e o controle emocional
Com o tempo, isso pode aumentar o risco de desenvolver demência, Alzheimer e outros transtornos neurológicos.
Então é melhor parar de beber?
Sim — quanto antes, melhor.
Os danos que o álcool causa ao cérebro podem ser irreversíveis, principalmente se o consumo for frequente ou prolongado. Mesmo que algumas funções melhorem com a interrupção do uso, parte das perdas — como redução de volume cerebral e prejuízo cognitivo — pode não ser recuperada totalmente.
Por isso, a melhor escolha para preservar a saúde mental, a memória e o equilíbrio emocional é evitar o consumo de álcool ou abandoná-lo o quanto antes.
O cérebro é um órgão sensível, e o impacto do álcool se acumula com o tempo. Cada dose, por menor que pareça, pode deixar uma marca.
Autor: Rolf Hartmann – Presidente da Cruz Azul no Brasil
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Daviet, R. et al. (2022).
Associations between alcohol consumption and gray and white matter volumes in the UK Biobank.
Nature Communications, 13, 1175.
https://www.nature.com/articles/s41467-022-28735-5
→ Estudo com 36 mil pessoas mostrando que mesmo níveis leves a moderados de álcool reduzem o volume cerebral.
- Wassenaar, T. M. et al. (2022).
Alcohol consumption is associated with accelerated brain aging.
NeuroImage, 251, 118987.
https://doi.org/10.1016/j.neuroimage.2022.118987
→ Identificou que o consumo frequente de álcool antecipa a “idade cerebral predita”.
- Topiwala, A. et al. (2017).
Moderate alcohol consumption as risk factor for adverse brain outcomes and cognitive decline: longitudinal cohort study.
The BMJ, 357, j2353.
https://www.bmj.com/content/357/bmj.j2353
→ Evidências de atrofia do hipocampo mesmo em níveis moderados de consumo.
- Mackey, S. et al. (2019).
Brain age and alcohol consumption: A multi-cohort study.
Addiction Biology, 24(6), 1195–1205.
https://doi.org/10.1111/adb.12629
→ Uso de inteligência artificial para calcular “idade cerebral” e associá-la ao consumo de álcool.
- Harper, C. (2009).
The neuropathology of alcohol-related brain damage.
Alcohol and Alcoholism, 44(2), 136–140.
https://doi.org/10.1093/alcalc/agn102
→ Estudo clássico que detalha como o álcool causa degeneração cerebral e perda de massa.
- World Health Organization (WHO).
Global status report on alcohol and health 2018.
https://www.who.int/publications/i/item/9789241565639
→ Relatório oficial que descreve os efeitos globais do álcool, incluindo os danos neurológicos.



